Contamos em uníssono os segundos restantes. Chega 2010, o ano próspero do Brasil. “Ano novo, vida nova” nos anuncia a tradição, como que fazendo uma promessa. Corremos para a praia para ver cores quentes e vibrantes no céu como crianças embasbacadas, abraçar e beijar desconhecidos e para sermos abençoados pela purificação das águas.
Mas a pseudo-promessa foi descumprida antes mesmo da primeira luz de sol para a menina prodígio de olhos brincantes e puxados que adorava música e acreditava no impossível. Não se pode ver nos olhos meio tranquilos, meio perdidos dos seus pais o que podem esperar pro amanhã. A finitude dos planos da menina que dizia querer ser cremada quando morresse ao som de 'Tears In Heaven', de Eric Clapton, varreu para nunca mais o direito do casal de poder novamente vê-la indo dormir, concluir a faculdade, casando, mostrando fotos de viagens e de rir junto num domingo à tarde.
Com certeza ela também olhou embasbacada os fogos travessos cintilando no céu, abraçou e beijou muitos desconhecidos e desejou lá no fundo poder realizar sonhos nesse novo ano, e teve certeza que conseguiria. Nesses instantes, Yumi esteve com um pé em cada lado dessa via de oscilação, onde as possibilidades e as impossibilidades transitam em contra-mão, cada qual desejando triunfar sobre alguém. Ninguém sabe por que ela, por que eles todos.
Sim, o amanhã é possível, intenso, viçoso, verdinho em folha. Mas também incerto e finito. E mesmo quando o sol sinaliza um novo dia, os anseios de um povo convocam a bonança ou quando a tradição anuncia o triunfo das possibilidades, a direção das coisas pode estar aquém das nossas certezas e de nós e a inversão pode acontecer e fazer triunfar a via das impossibilidades.
Nota: Leitura do fatídico começo de 2010 em Angra dos Reis e Ilha Bela e de muitos outros contextos em que o trágico triunfa.
Nota: Leitura do fatídico começo de 2010 em Angra dos Reis e Ilha Bela e de muitos outros contextos em que o trágico triunfa.